Jornalista tem que ser multimídia

Capa da nova Nintendo World
Capa da nova Nintendo World

Tá aí… Eu que nunca achei que fosse tocar nesse assunto, tocando no tal do assunto.

Como todo mundo aqui já sabe ou suspeita eu não sou jornalista por formação. Na verdade sou formado em Letras (literatura e cultura brasileira e japonesa) pela USP com alguns cursos feitos na ECA, mas jornalismo mesmo eu nunca fiz. Só que trabalho na área desde 1999 e nunca parei. Já fui, redator, repórter, editor de site de internet e hoje sou editor chefe de uma revista de games (a Nintendo World!).

Quando comecei e trabalhar na área eu nem podia. Era o que eles chamavam de repórter trainee. Escrevia textos das coisas que gostava e me divertia com aquilo. Durante alguns momentos de indecisão dizia a meus chefes (jornalistas formados): “Acho que vou largar tudo na Letras e ir para a ECA de uma vez!” e eles me respondiam: “Não! O curso de jornalismo é como uma carta de motorista! Você já sabe dirigir, só vão te dar a permissão”.

Essas coisas tiravam o meu estímulo de mudar de carreira, mas mesmo assim eu estava sempre tentando absorver tudo o que todos os meus superiores me ensinavam. Hoje, 2010, será que alguém ainda tem a coragem de dizer que eu não sou jornalista? Mesmo com um merecido MTB, com todo esse tempo de experiência e com o fato de terem cancelado a tal obrigatoriedade do diploma? Tá aí uma pergunta interessante. Para mim, a obrigatoriedade só servia para “tentar coibir” quem escrevia e não era formado, mas isso na prática nunca aconteceu.

Enfim, eu queria mesmo era falar do jornalista de hoje. Para quem trabalha na área os tempos mudaram… Hoje você não precisa apenas saber fazer uma boa pauta, um bom texto e escolher imagens. Hoje você precisa saber mexer com absolutamente tudo o que a tecnologia andou criando no decorrer dos anos. Hoje você tem que saber tirar fotos, usar uma câmera de vídeo, fazer músicas, ter noções de design, saber HTML, saber usar o tal do Photoshop, saber falar bem em público, encodar um vídeo no Youtube, Twittar como se não houvesse amanhã, falar outros idiomas e manjar muito de internet e de redes sociais. Você não aprendeu isso na faculdade? Então você está pego meu rapaz (ou moça). Trate agora de correr atrás disso ou acostume-se a ficar para trás. O jornalismo da era digital é completamente diferente daquele que você aprende ou aprendeu nas faculdades. Antigamente, o jornalista só escrevia para ele mesmo ou para meia dúzia de pessoas em volta. Se o jornalista fazia polêmica e recebia uma carta de um leitor e não concordava era só ignorar e pronto. Hoje tudo o que você faz ou escreve é visto e comentado pelos leitores, não que isso não fosse feito antes, a diferença é que hoje eles estão muito mais próximos. Eles são da sua comunidade, eles twitam o tempo inteiro, eles podem te adorar ou podem te odiar com uma facilidade muito maior do que aquela de anos atrás. Antigamente, líamos Diogo Mainardi e achávamos o máximo. Hoje descobrimos centenas de “Diogos Mainardis” pela internet afora. Eles podem até não estar nas maiores e melhores revistas, jornais e websites, mas alguns deles têm a mesma qualidade e talvez sejam até melhores. Para se fazer uma revista é preciso de dinheiro, de trabalho e de paciência. Para fazer um blog na internet leva apenas alguns cliques. Vai dar trabalho logicamente, mas não vai lhe custar um tostão. Hoje quem compra revista ou acessa sites na internet quer ver coisas diferentes, quer ser atraído, quer referência. Sim, como antigamente, mas certamente de uma maneira bem diferente. Ideias brotam a todo instante, o cérebro digital não pára de funcionar e o leitor faz parte de tudo isso.
No passado diziam que o repórter precisava estar em um patamar acima do leitor, hoje se você tem essa postura acaba sozinho. É o leitor que faz o jornalista ser o que é. É o leitor que acompanha todos os passos que damos e que nos puxa a orelha nos momentos em que estamos exagerando.

Eu estava conversando com alguns amigos outro dia que diziam: “Renato, você está dando força pro pessoal correr atrás das coisas aqui”!
No ramos do jornalismo de games, o que me enchia mais o saco era ver que a galera reclamava que as grandes empresas de game eram isso ou aquilo e que não davam atenção. A minha posição nesse mercado sempre foi a de tentar fazer o impossível. Pra que ficar de braços cruzados esperando outras pessoas conseguirem as coisas. Faça você! Esse é o trabalho que nos foi dado. A edição #131 da Nintendo World deu um trabalhão danado, mas tem duas entrevistas que me deram muito prazer de fazer. Foi difícil, mas não foi impossível. Além disso, com um papinho aqui e outro acolá convidei o Charles Martinet, ator que faz a voz do Mario para vir ao Brasil participar do Gameworld. 10 de trabalho, muitos contatos, idéias e amigos que te dão força fazem esse tipo de coisa. E isso é o que dá mais prazer!

Desculpem pela ausência de tanto tempo sem postar. O trabalho anda tirando o meu sono pra variar, mas eu me divirto então compensa!

3 comentários Adicione o seu

  1. E aí Renato, beleza?

    Infelizmente, essas discussões sobre as mudanças no jornalismo (não as trabalhistas, mas as técnicas no exercício da profissão) podem até parecer óbvias. Mas o fato é que pouquíssimas universidades estão sequer tentando acompanhá-las na formação dos futuros repórteres/editores. Digo por experiência própria.

    E, depois de formados, poucos se interessam em correr atrás de cursos ou até mesmo tutoriais na Internet para aproveitar os recursos tecnológicos na profissão. São pouquíssimos os que possuem todos estes atributos os quais você listou em negrito.

    O real impacto da tecnologia no jornalismo ainda é desconhecido. Mas, de pronto, sabemos que devemos nos adaptar. Bom post!

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  2. Eduardo Russo disse:

    Soneca – dane-se que sou a única pessoa do mundo que te chama assim… é uma certa exclusividade adquirida pelo tempo de conhecimento 😛

    Belo post! Estava discutindo isso outro dia com o pessoal da faculdade, no quanto acho insuportável jornalista de mídia genérica falando de assunto que não conhece. Videogame e tecnologia em geral são os piores casos, ou, pelo menos, os que tenho propriedade suficiente para contestar.

    Comentei que nos EUA, por nunca ter tido a restrição que tivemos aqui, jornalista de tecnologia é uma pessoa que vive de tecnologia, tem formação em tecnologia e gosta de escrever sobre isso e acaba transformando o hoby em trabalho.

    Os blogs no Brasil foram uma grande revolução pq se tratavam exatamente disso. Felizmente a barreira da formação foi quebrada aqui no Brasil tb e espero ver cada vez mais pessoas apaixonadas pelo que fazem falando sobre o que conhecem.

    Mais uma vez, parabéns por ter chegado onde chegou! Imagino que foi muita batalha para vencer as barreiras da falta da porcaria do diploma de jornalista!

    []s
    Russo

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  3. Você disse tudo. Vou fazer uma chamada para o seu post.
    Abraço do
    Aluízio Amorim
    Jornalista (hoje só na internet…hehehe…)

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